segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Auto-conceito e beleza: vale tudo para alcançá-la?

Primeiramente, é necessário definir alguns termos e conceitos. O que uma
pessoa pensa a seu respeito reflete seu auto-conceito. Auto-estima, por sua
vez, refere-se a quanto uma pessoa se estima, gosta de si mesma. O ideal é
que as pessoas desenvolvam um auto-conceito positivo, dessa forma, sua
auto-estima será uma consequência inevitável.
Um auto-conceito positivo, conciliado a uma auto estima elevada, é de
fundamental importância para uma estrutura pessoal funcional. Podemos
definir três grandes áreas que resumem e fundamentam o auto-conceito das
pessoas em geral, isto é, como se percebem, suas opiniões sobre si mesmo:
(1) as crenças que as pessoas têm sobre si na área da capacidade – o quanto
se acreditam capazes, intelectualmente, profissionalmente, o quanto acreditam
que terão sucesso em suas empreitadas ou que conseguirão ser
independentes e autônomas; (2) as crenças que as pessoas têm sobre si na
área da adequação social – o quanto se acreditam adequadas, atraentes,
bonitas, com valor, não inferiores a outras pessoas, o quanto acreditam que
têm uma imagem social positiva e são vistas por outros como possuidoras de
qualidades; e (3) as crenças que têm sobre si na área da estima e do amor – o
quanto se estimam, o quanto se acreditam amadas por outras pessoas e o
quanto acreditam que reúnem os atributos para serem amadas por outras
pessoas.
Em termos de auto-conceito, as pessoas poderão se situar em algum ponto,
entre os extremos positivo e negativo, nas três dimensões acima, capacidade,
adequação e estima. Seu auto-conceito nas três áreas determinará como se
sentirão e como se comportarão diante de si e diante do mundo. E quanto
mais aspectos do auto-conceito se referem ao campo das relações
interpessoais, mais relevantes esses aspectos serão em determinar o estado
emocional das pessoas, ou seja, como elas se sentirão. Vê-se, portanto, que o
auto-conceito é grandemente responsável por estados de depressão,
transtornos de ansiedade, suicidalidade, abuso ou dependência de drogas,
entre outros transtornos. Portanto, todos desejamos nos sentir bem a nosso
respeito, e, na área da adequação social, a beleza é valorizada e buscada pela
maioria das pessoas, em maior ou menor grau. A escolha de procedimentos
cirúrgicos, a fim de corrigir defeitos e imperfeições ou de melhorar ainda mais o
que já está bom, não reflete necessariamente a existência de problemas.
Contudo, problemas podem ocorrer quando, por exemplo, a pessoa elege uma
cirurgia plástica para corrigir uma imperfeição física, acreditando que seu
problema se situa na dimensão da adequação social, que se refere à sua
imagem social; mas que, na verdade, seu problema reside na área da estima,
ou seja, essa pessoa não acredita que seja amada por outros, ou, pior ainda,
não acredita possuir os atributos para ser amada por outros. Nesse caso, ela
pode eleger conduzir uma série de procedimentos cirúrgicos e jamais sentir-se
satisfeita. Ou aquela pessoa que se sente inferior aos demais, sem valor, tanto
na área da imagem social e da beleza, como também nas dimensões da
capacidade e da estima. Então, não conseguirá alcançar a satisfação almejada
ao se submeter a cirurgias plásticas que a tornam mais bela, mas que não
bastam para compensar ou neutralizar sua real insatisfação nas dimensões da
estima e da capacidade.
O acompanhamento psicológico é necessário quando se identifica um
descompasso entre as aspirações de beleza física da pessoa e suas reais
insatisfações. Alcançar padrões mais elevados de beleza não
necessariamente supre necessidades em outras áreas.
Pessoas que recorrem repetidas vezes a procedimentos cirúrgicos muito
frequentemente falham ao buscar melhorias estéticas, mas para suprir
necessidades em outras áreas. Ou são pessoas perfeccionistas, cujos padrões
de beleza são por demais elevados, ou seja, inatingíveis.
Um auto-conceito positivo e a consequente auto-estima elevada são focos de
grande parte dos esforços terapêuticos durante a condução de uma
psicoterapia. Direta ou indiretamente, as intervenções clínicas estão
associadas ao desenvolvimento e consolidação de um auto-conceito positivo.
Algumas intervenções têm como foco a mudança de crenças não realistas e o
reconhecimento de qualidades que a pessoa em psicoterapia não percebe em
si. Outras intervenções têm como foco a correção do perfeccionismo e a
aceitação de limitações, com base no reconhecimento de que a perfeição não é
alcançável. Outras intervenções têm como foco a correção de imperfeições,
mas dentro de um padrão realista de expectativas.

Ana Maria Serra
PhD Psicologia - Terapeuta Cognitivo-Comportamental
Especialista em Psicologia Clínica
Diretora Clínica e Pedagógica
ITC - Instituto de Terapia Cognitiva
Av. das Nações Unidas, 8501 - 17o. andar
CEP 05425-070 São Paulo, SP
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